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“Transição energética ainda é um grande desafio para o país” afirmam especialistas na matéria

Central Fotovoltaica de Zimane na Província de Inhambane – Fonte: diário económico

Especialistas em estudos de recursos naturais e meio ambiente referem que a transição energética ainda representa um grande desafio para Moçambique. A dependência por combustíveis fósseis, a fraca capacidade financeira e ausência de uma política ou estratégia energética são apontados como alguns dos entraves.

Olhando para o estágio actual da transição energética, o especialista em mudanças climáticas Amade Casimiro, afirma que o país ainda não está avançado neste processo. “A nível global há países que estão mais avançados, de forma geral nós ainda estamos longe de efectivar a transição e se considerarmos a nossa percentagem do uso de combustíveis fósseis vai ser um desafio efectuar essa transição”, disse Casimiro.

Para o pesquisador do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) Américo Maluana, o grande desafio da transição energética é encontrar o equilíbrio entre o crescimento económico por via da exploração de recursos naturais e a sustentabilidade ambiental. “Quando a agenda de transição energética cresce é como se o país estivesse a ser confrontado para reduzir as suas perspectivas de desenvolvimento por via de exploração dos recursos.  Portanto, é aí que se coloca o grande desafio do país. Entretanto, nem tudo está perdido considerando que o gás ainda é visto como energia de transição justamente por ser uma fonte de energia menos poluente em relação as outras e continuará atractivo no mercado internacional,” refere³ Maluana.

Maluana, destaca ainda a necessidade de se desenhar uma estratégia ou política para fazer face a transição energética de modo que o país possa se posicionar melhor e colher os dividendos dos seus recursos sem negligenciar todo um conjunto de factores nacionais e internacionais que se colocam a este processo.

Por sua vez, o ambientalista Armindo Manhiça considera que Moçambique tem um grande potencial para a transição energética, mas fraca capacidade financeira. “Nós temos o sol quase todo o ano, temos vários rios que atravessam o país, em termos de potencial temos capacidade de facilmente fazer a transição energética, mas isso implica investimento interno e financeiramente o país não está tão bem”, disse Manhiça

Transição deve ser gradual

“A transição deve ser um processo gradual e a solução não é parar a exploração dos recursos, mas sim encontrar mecanismos de compensação”, defende Jocelyne Machevo, consultora de petróleo, gás e energia. “Nós temos que encontrar mecanismos de compensação para que a emissão líquida seja zero e existem várias formas de fazer isso, pode ser através dos reflorestamentos. As empresas que exploram podem adoptar energias mais limpas através de plantas fotovoltaicas ou construção de fábricas eólicas. Existe também a tecnologia de captura de carbono que já é implementada pelas empresas que exploram gás e desta forma nós não temos a emissão de gases de efeito estufa”, disse Jocelyne.

Acesso à Energia

Fonte: Relatório de energias renováveis 2021- ALER

Outro aspecto a ter em conta neste processo é o facto de que 60% da população moçambicana, ainda não tem acesso a energia eléctrica, situação que os obriga a recorrer ao uso de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo. Em 2018, o governo lançou um programa chamado “Energia para Todos” que preconiza o acesso universal da energia até ao ano 2030.  A estimativa do plano director do sector eléctrico mostra que até 2024 existe uma meta de aumento da capacidade de geração de energias renováveis e limpas de aproximadamente 600 megawatts, sendo 400 megawatts provenientes do gás e 200 megawatts de fontes hídricas, solar e eólica.

Num contexto em que maior parte da população ainda está a transitar do escuro para a luz, Américo Maluana defende que há necessidade do governo e seus parceiros olharem para o objectivo do acesso universal à energia e encontrarem formas de colocá-la lado a lado com a transição energética. A preocupação com o meio ambiente faz parte da agenda global, os países têm estado a desenhar estratégias no sentido de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com vista a fazer face aos efeitos das mudanças climáticas. Moçambique não está alheio a este processo e já participou em vários encontros que discutem o assunto com destaque para a Conferência das Nações Unidas sobre Clima (COP 21) em 2015; e a COP 26 em Novembro de 2021.  Nesses encontros o país comprometeu-se a contribuir para reverter o cenário da degradação da terra, do desflorestamento e atingir cerca de 72% de energia baseada em fontes renováveis.

Escrito por: Kátia Mussá, Jornalista-estagiária do Midia Lab

Ernesto Timbe

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